“O poder do exemplo”

Antonio Gavazzoni

No último dia 21 de março reunimos em Florianópolis centenas de servidores e convidados para o Encontro Fazendário – uma grande reunião anual de alinhamento sobre a conjuntura econômica. Eu tinha a incumbência de, como anfitrião, fazer um discurso motivacional para o nosso quadro técnico. Em vez de focar em resultados e metas por meio de números, resolvi contar uma história para tentar transmitir a mensagem desejada.

Relatei então aos colegas a experiência recente que tive em Tóquio, durante missão do Governo do Estado para a ampliação do mercado catarinense em países do Oriente. Já tinha ouvido falar bastante da limpeza das ruas japonesas. Mas fiquei muito intrigado ao constatar que não havia absolutamente nenhum lixo em nenhum lugar. Nem mesmo lixeiras eram vistas. Após alguns dias, cheguei a apostar com os integrantes: daria cem euros a quem encontrasse uma bituca de cigarro no chão. Deixei o dinheiro com um “avalista” e, três dias depois, ele teve que me devolver. Então dobrei a aposta: daria duzentos euros a quem encontrasse um chiclete grudado no asfalto. Novamente, não perdi dinheiro.

Numa oportunidade, com ajuda de um tradutor, conversei com um empresário local sobre esse maravilhoso hábito japonês de manter as ruas absolutamente limpas. Ele me disse então que as ruas são uma extensão de suas casas e que, desde muito pequenos, eles aprendem isso e sabem que são responsáveis por seu próprio lixo, por menor que seja. Para eles era algo natural, não requeria grande esforço.

O exemplo dos japoneses me tocou profundamente. Tanto que, ao perceber que um colega havia deixado cair um pedaço de plástico, eu imediatamente me abaixei, juntei e guardei para depois descartar em local apropriado. Naquele momento percebi olhares de aprovação por parte de locais que estavam por perto – e aquilo me deixou ainda mais tocado.

Percebi que o bom exemplo e as conversas que tivemos sobre o assunto motivaram outros na comitiva. Mas na parada seguinte, na Espanha, notei que os mesmos que louvaram a obsessão japonesa por limpeza já estavam, digamos, mais relaxados, deixando escapar aqui e ali um copo plástico ou algum outro lixo pequeno.

Com tudo isso cheguei à conclusão de que as mudanças dependem muito mais da sociedade que do estado – mas que não há estímulo mais poderoso e transformador que o exemplo. Ele fala por si só e inspira os que estão ao redor. Nossa sociedade está sendo bombardeada por maus exemplos daqueles que deveriam ditar o modelo a ser seguido. Óbvio que não podemos nem devemos generalizar, mas, em grande parte, nossas instituições do Executivo, Legislativo e Judiciário não têm conseguido corresponder às expectativas. Quando há iniciativas de mudanças para melhor, elas dificilmente começam com cortes na própria carne. “Vamos mudar, mas sem mexer no meu quinhão”. Aí a credibilidade se perde.

A mensagem que tentei passar ao grupo foi a de que precisamos fazer nosso trabalho da melhor forma possível, para que ele sirva de exemplo a todos os públicos por nós atendidos: contribuintes, poder público, sociedade, colegas. Que não somente possamos ter orgulho de um trabalho bem feito, mas que os nossos usuários percebam isso. No exemplo está o poder que nos leva à evolução.

Por: Antonio Gavazzoni,

Doutor em Direito Público
Secretário de Estado da Fazenda
contatogavazzoni@gmail.com

*Coluna publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1472 de 30 de março de 2017.

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