Mãos que falam e que veem: Acadav promove a valorização e incentivo a deficientes auditivos e visuais

Atividades, encontros e eventos realizados pela associação promovem a causa das pessoas com deficiência

Quem tem os cinco sentidos funcionando normalmente, talvez não dê tanta importância para a utilidade das mãos, no entanto para quem tem a audição e a visão comprometidas, as mãos podem ser o principal canal de comunicação. Mãos para falar, mãos para ler. Os surdos usam as mãos para conversar, para expressar o que pensam e sentem por meio da Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras, a segunda língua oficial do Brasil. Os cegos ouvem, mas não podem ler de modo convencional, mãos eles podem, por meio do tato, ler usando o braile. Atualmente Campos Novos registra cerca de 70 pessoas com deficiências auditivas e visuais. Destes, 46 frequentam a Associação Camponovense de Apoio ao Deficiente Auditivo e Visual (Acadav), entidade que tem por objetivo ajudar essas pessoas que apesar de sua limitações tem grande potencial.

A professora Solange dos Santos, sócia-fundadora da Acadav, que foi criada no dia 7 de marco de 2007, conta que a Acadav resultou da união de um grupo de pessoas que tinham a preocupação com o atendimento com os surdos e cegos do município. “Estudamos como poderíamos criar a associação, reunimos clubes de serviço, pessoas da área da educação e fomos fomentando e amadurecendo a ideia. Buscamos informações, contamos com o apoio da Associação de surdos de Curitibanos que nos orientou a que caminho seguir. Após a organização fomos a prefeitura e apresentamos o projeto, mostrando que esses pessoas cegas e surdas faziam parte do município e deveriam ser atendidos aqui, o então prefeito deu o aval para que a associação fosse criada”, conta. A equipe encontrou um local apropriado e se encontra lá ate hoje. No final de 2007, a Acadav apresentou projeto na Câmara de Vereadores, que firmou por lei a parceria da associação com a administração municipal que é legalmente responsável pelas despesas da instituição. Também foi estabelecido e firmado um convênio com a Fundação Catarinense para o fornecimento de mais profissionais para que possam atender todos os que participam da associação. Atualmente a associação é presidida por Erdineia da Rosa de Oliveira.

A criação da Acadav foi um presente para as pessoas com deficiência de Campos Novos. Anteriormente os surdos eram atendidos no município de Joaçaba, e os cegos não recebiam nenhum tipo de assistência. Hoje a Acadav realiza um trabalho que os integra e promove atividade de estimulação e valorização. Com os surdos a associação trabalha a Libras e o português escrito. Eles também realizam atividade físicas, participam de oficina de artesanato, do coral de surdos, e estes coral, inclusive, já foi convidados para participar de eventos. Alguns surdos trabalham na cozinha voluntária que produz pão, macarrão, bolacha, e vários alimentos. Eles tem um leque de opções de atividades. A Acadav prepara uma programação para cada participante. Além dessas atividades agendadas, os deficientes auditivos tem a oportunidade interagir entre si, aumentado o contato um com o outro. É exigido que todos que participam do projeto que tem idade escolar frequentem a escola. Crianças de 1 ano e seis meses que tem o diagnóstico de surdez já podem ser atendidas na Acadav.

Os deficientes visuais também são atendidos pela Acadav desde cedo, após recomendação médica os profissionais realizam a estimulação visual quando há algum resíduo de visão. Quando não há mais visão e a doença já está instalada, a associação promove para os cegos atividades físicas, aulas de artes e os professores trabalham com eles o pedagógico para estimula-los a aprender a ler. É feito um trabalho para ajudar os cegos a aprender o braile e a estimulação tátil para perceber as coisas pelo tato.

Desde sua fundação a Acadav já ajudou e tem ajudado muitas pessoas com deficiência e os incentivando e quebrando paradigmas que pregam tanto o surdo quanto o cego como alguém incapaz. Mas os fatos têm mostrado o contrário. Bruna Bosi Trevisol. professora da Acadav, que ficou surda após uma doença na infância, é graduada, e já esta na sua segunda faculdade. Ela trabalha na associação e seu exemplo deixa claro a capacidade dos deficientes. Em conversa com Bruna, ela conta que a família, as vezes contribui para que o surdo não se desenvolva. “É importante a família trazer seu filho, elas relutam em ajudar os filhos surdos. Os surdos são capazes, eles podem se sentir motivados a buscar uma formação, um trabalho e a ter responsabilidades”, conta. (Um intérprete nos ajudou a traduzir).

Além das atividades regulares, a Acadav promove eventos e encontros entre deficientes de vários municípios. Este ano o encontro de surdos acontece no município de Campos Novos no dia 28 de outubro no Galpão Crioulo. O evento trará a professora Karin Strobel da Ufsc, que abordará temas pertinentes a realidade dos surdos. O grupo também tem parceria com empresas e clubes de serviço que ajudam na aquisição de bens e realização de eventos.

Solange afirma que durante esse tempo Campos Novos tem progredido bastante para promover a inserção dos surdos e cegos na sociedade, e relata que dentro do município existem surdos que estão cursando o nível superior, mas que ainda é preciso quebrar os preconceitos que ainda existem. E a Acadav tem um papel importante na capacitação do surdo. “As pessoas ainda ignoram as diferenças, mas já realizamos muitas conquistas. Hoje o surdo já pode ensinar a outros sua própria língua, antes não havia um surdo capacitado para isso. Nas escolas temos um profissional para interpretar e facilitar a comunicação. Estamos no caminho”, conclui.

*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1542 de 16 de agosto de 2018.

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