Com novas regras produtores de leite que não cumprirem as metas terão coleta suspensa

Diretor de tecnologia da Epagri afirma que para se adequar será preciso profissionalizar a produção.

Alexandro Kolling, responsável pelo Centro de Referência Tecnológica do Leite e Vagner Miranda Portes, Diterot de Tecnologia da Epagri

O estado de Santa Catarina é o 4° maior produtor de leite do país, produzindo mais do que consome. A boa posição no ranking nacional vem acompanhada de um status sanitário privilegiado, fato que o diferencia dos demais estados em questões de qualidade do leite. Com as novas normativas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a pretensão é aumentar a qualidade do leite em todo o país. As regras passaram a vigorar a partir do dia 1 de junho de 2019, e causou resistência em algumas associações, que até chegaram a solicitar a prorrogação do prazo. A principal mudança é para a indústria, que terá de receber o leite nos seus silos de estoque a, no máximo, 7°C. Atualmente esse limite é de 10°C e para o produtor é de 4°C. A partir de agora, quem não ficar nessa média por trimestre terá a coleta suspensa até que comprove medidas para ficar dentro desse padrão. Para o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Vagner Miranda Portes, a medida visa trabalhar ainda mais a qualidade do leite. “Temos que nos qualificar porque hoje é fácil vir leite de outros países, temos que ter qualidade para não perder nosso próprio mercado interno, mas investir em qualificação para buscar novos mercados externos”, avaliou. Vagner prosseguiu dizendo que tanto produtor quando as indústrias de laticínios deverão fazer as devidas adequações e para isso será necessário o investimento em profissionalização da produção.

Apesar de ter havido uma apatia por parte de alguns, a maioria dos produtores do estado parece ter sido favorável as mudanças que são pensadas e reformuladas no decorrer dos anos para promover cada vez mais qualidade ao produto. O diretor garante que o objetivo da mudança é pensando em promover um produto melhor e mais seguro. “A proposta do Ministério da Agricultura é importante para a indústria, para o produtor e também para o consumidor, pois ele terá um produto de melhor qualidade, e essa é a meta”, afirma. A legislação foi criada em 2002 e passou a vigorar em 2005 com a Instrução Normativa (IN) 51, e a cada período foi evoluindo. “Percebeu-se agora que a qualidade do leite estagnou, não apresentou melhora e nem evoluiu e a tendência era declinar. Isso culminou com o lançamento das instruções normativas que ocorreram em 2018. Elas tratam de questões que incluíram alguns parâmetros físico-químicos”, explica.

Essas adequações poderão ocasionar um custo ao produtor, como, por exemplo, a questão do resfriamento exigirá a mudança nos tanques de armazenamento do leite, este é o ponto que mais pesa financeiramente para o produtor, mas Vagner afirma que o produtor poderá ter ajuda para resolver essa situação. “A questão do resfriamento é que vai manter a qualidade até chegar a indústria. Quanto menos bactérias tiver melhor, porque a bactéria vai se multiplicando no caminho e vai chegar no silo com uma quantidade elevada. Muitos dos resfriadores não permitem essa condição, então talvez seja feita uma adaptação ou troca de resfriador. Esta situação não vai inviabilizar o trabalho ou onerar de forma extrema o produtor. O governo já está vendo possíveis fontes de financiamento e redução de juros para poder auxiliar os produtores neste sentido. Eles precisarão fazer certo investimento, mas que poderá ser mais benéfico a longo prazo”, disse.

Este custo foi apontado como uma possível causa para diminuição de produtores da cadeia leiteira, mas isso também poderá selecionar de forma natural os produtores que estão comprometidos em oferecer o melhor leite para consumo, contribuindo com a condição privilegiada do estado. Mesmo antes das normativas detectou-se a diminuição no número de produtores, em contrapartida houve um aumento na produção do leite. Em 2017 Santa Catarina produziu 2.979.865 litros e o rendimento foi de 3.580 litros de leite por vaca no ano. Em Campos Novos no mesmo ano foram produzidos 28.334 litros de leite, com rendimento de 4.106 litros em média por vaca anualmente. A partir dos próximos meses toda essa cadeia local deverá se manter com nível de alto de qualidade para chegar até o setor de laticínio.

As indústrias serão as mais afetadas com as novas regras, pois provavelmente irá modificar sua logística no transporte do leite. As metas estão mais focadas nas indústrias de laticínio. Elas precisarão ter um Plano de Alto Controle que estabelece a qualificação de fornecedores. A indústria terá que ter produtores qualificados, isso inclui boas práticas de produção e questão sanitária. A propriedade será analisada por um médico veterinário que fará um levantamento das condições existentes e um plano de como irá evoluir e ficar nas condições que são preconizadas dentro das boas práticas de produção. A legislação preconiza que a indústria deverá propiciar essa consultoria técnica as propriedades. “A indústria terá que dar o suporte técnico para o produtor, para que o profissional faça uma avaliação, um plano de sanidade da propriedade, pois os animais devem estar livres de tuberculose e brucelose. É só uma questão de profissionalizar a produção. Não é só investimento, é uma questão de manejo de profissionalização que vai promover a qualidade em longo prazo e promoverá uma economia. Mais qualidade significa menos gastos sanitários”, afirma. Casos os produtores de leite estiverem três meses consecutivos com a média geométrica fora do padrão ele deixará de ser coletado até que apresente uma nova análise que seja aceitável segundo os padrões estabelecidos.

Com o aumento dos gastos e mais investimento em mão de obra e qualificação para cumprimento das regras, provavelmente haverá um impacto no preço final do produto nas prateleiras do supermercado. No entanto, Vagner acredita que o consumidor final será muito beneficiado pela pelos novos procedimentos adotados. “Haverá um impacto final nisso, mas não da para prever quais os reflexos no preço. O consumidor final será o mais beneficiado, pois as pessoas vão consumir um leite de maior qualidade, pois diminui os riscos de contaminação de doenças e ate no gosto do leite e derivados do leite. As bactérias no leite consomem proteína, a gordura, a lactose, e o rendimento do leite é menor”, conclui.

*Reportagem publicada no Jornal “O Celeiro”, Edição 1583 de 20 de junho de 2019.

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