(IMAS) Suspende a vinda de estudantes de Medicina para estágio no Hospital Dr. José Athanázio

Fraudes na Universidade Brasil, que traria os estagiários, envolvem compra de vagas no Curso de Medicina

A assessoria do Instituto Maria Schmitt (IMAS), que administra o hospital de Campos Novos.  Repassou ao Jornal “O Celeiro” que suspendeu a vinda de estudantes de Medicina de Fernandópolis (SP), para estágio no Hospital Dr José Athanázio.

Na última semana, a Universidade Brasil foi tema de Reportagem no Programa Fantástico da Rede Globo onde na reportagem havia denúncias de fraudes que envolvem a Universidade de Fernandópolis (SP). Segundo a reportagem, 20 pessoas foram presas pela Polícia Federal, entre elas, o reitor e o filho.

A matéria foi divulgada na imprensa de São Paulo e o assunto foi tratado em rede nacional em reportagem extensa no Fantástico, também publicada pelo G1.

Ocorre que as tratativas para vinda de 80 estudantes do 5º e 6º anos do Curso de Medicina, para estágio no Hospital Dr José Athanázio de Campos Novos, envolviam a Universidade Brasil, justamente do campus de Fernandópolis (SP), onde a Polícia Federal e o Ministério da Educação fazem investigações e o MEC denuncia o excesso de alunos.

Na manhã desta segunda-feira (9), a assessoria do IMAS anunciou a suspensão do convênio para o programa de estágio que traria 80 alunos entre setembro e outubro deste ano para Campos Novos e outros 90 no ano que vem.

Sobre o cancelamento definitivo do convênio com a Universidade Brasil, o IMAS ainda deverá se pronunciar.

Investigações

A acusação da PF contra a Universidade Brasil é de venda de vagas para o Curso de Medicina e de fraudes no Fies ( Financiamento Estudantil). As vagas que estariam sendo vendidas, inclusive, para fora do Brasil.

Houve, segundo denúncia da Polícia Federal, a formação de uma quadrilha que ofertava até um combo, no valor de R$ 120 mil, para uma vaga em Medicina e no FIES.

Os estudantes que não tinham relação com as fraudes começaram a denunciar, por exemplo, a chegada de estudantes de países vizinhos, por meio de transferências que seriam maquiadas.

Em um dos casos, a PF apreendeu cheques no valor de R$ 80 mil, que serviram para comprar a vaga de um estudante de São Paulo, que ficou na posição 600, mas conseguiu entrar no curso de Medicina, embora só houvessem 400 vagas.

O IMAS deverá divulgar uma nota à imprensa a respeito da suspensão do estágio.

Reportagem G1

Conversas telefônicas obtidas com exclusividade pelo Fantástico e exibidas em reportagem neste domingo (8) revelam como era o esquema fraudulento de venda de vagas em cursos de medicina e de bolsas do Fies na Universidade Brasil, no campus de Fernandópolis (SP), que foi alvo da operação da Polícia Federal, deflagrada na terça-feira (3).

Durante a operação intitulada como Vagatomia, vinte pessoas foram presas. No sábado (8), a Justiça Federal prorrogou por mais 5 dias a prisão de 11 suspeitos. Dois investigados com mandado de prisão expedido seguem foragidos.

Entre as pessoas presas estão o empresário e reitor da universidade, o engenheiro José Fernando Pinto Costa, de 63 anos, e o filho dele, Stefano Bruno.

Ambos são apontados pela polícia como chefes da organização. Segundo a PF, eles utilizavam o dinheiro obtido nas fraudes para comprar jatinhos, helicópteros e imóveis de luxo. O advogado de defesa da instituição nega a existência do esquema fraudulento.

O esquema fraudulento de venda de vagas já tinha sido alvo da operação Asclépio, da Polícia Civil de Assis (SP), em abril deste ano.

Em uma ligação interceptada pela polícia é possível ver como era feita a negociação. Uma mulher pergunta se é garantido que ela consegue transferir a faculdade e um homem responde que trouxe quase 70 pessoas de Cochabamba. “Agora elas estão aqui”, diz o homem.

Em uma segunda escuta telefônica, um homem explica como funcionava o esquema. “Quem quer entrar em medicina e não consegue passar no vestibular o cara vende (..) e cobra R$ 150 mil, R$ 120 mil.”

Em outra conversa obtida pelo Fantástico, uma mulher deixa bem claro como era fácil participar do esquema. “A lista rodou inteira. Até cachorro entrou, ou seja, não precisaria ter comprado.”

De acordo com a Polícia Federal, os integrantes da quadrilha se dividiam em núcleos. A parte empresarial era formada pela família do reitor. Os integrantes do administrativo eram funcionários da Universidade Brasil. Enquanto o comercial era exercido pelas assessorias que negociavam vagas com estudantes e tinham até um núcleo jurídico para ajudar a maquiar o golpe.

Desconfiança

Estudantes que entraram na faculdade após serem aprovados no vestibular começaram a desconfiar das fraudes por causa da quantidade excessiva de alunos que frequentavam a instituição de ensino superior.

“Inicialmente começou com dois, quatro, depois a gente começou a perceber que entravam 100, aí de repente 200 e 400. Nós temos discentes qualificados, único problema é que a quantidade de alunos afeta sim o ensino”, diz um universitário que preferiu não se identificar.

Em um dos casos comprovados que houve fraude, um aluno de medicina de Jales não conseguiu uma boa pontuação no vestibular. Na lista, o número dele era 618. A Universidade Brasil tinha somente 205 vagas, mas ele foi aprovado.

A equipe de Fantástico descobriu como o aluno conseguiu pular 400 pessoas que estavam na frente dele. No dia 11 de abril, dois homens que fazem parte da organização criminosa entraram em um consultório médico e saíram com dois cheques, sendo um de R$ 15 mil e outro de R$ 65 mil. Quem fez o pagamento foi o pai dele. O aluno conseguiu entrar na faculdade.

“Ficou bem claro, não só pela apreensão do cheque em si, no valor de R$ 80 mil, mas pelas tratativas prévias que foram feitas”, afirma Cristiano Pádua, delegado da Polícia Federal.

Por mensagem, o médico José Francisco Queda negou que tenha comprado a vaga para o filho dele, mas não explicou o motivo de dar dois cheques no valor de R$ 80 mil para integrantes da organização criminosa.

Para o delegado Marcelo Ivo, da Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado, a participação das pessoas que compram vagas é essencial, pois sem elas não haveria o esquema fraudulento.

‘Ajudinha’ para estudantes estrangeiros

Além das fraudes nos programas do governo federal, a organização criminosa também realizava a transferências de estudantes que estudavam medicina em faculdades fora do Brasil.

Médicos formados no exterior que querem trabalhar no Brasil precisam passar pelo Revalida, um exame nacional que torna válido o diploma. Contudo, os estudantes vinham do exterior e entravam na Universidade Brasil por meio de um vestibular forjado.

“A partir do momento em que eles conseguiam ser transferidos para uma universidade aqui no Brasil, mediante pagamento, quando eles se formavam já não havia mais a necessidade de fazer o Revalida, de se submeter a esse exame”, diz delegado da PF Cristiano Pádua.

Para burlar o sistema, o aluno cursava medicina, mas no papel, a universidade dizia que ele estava matriculado em outro curso na área de saúde. No semestre seguinte, a transferência para o curso de medicina era realizada.

Nos últimos dez anos, José Fernando Pinto da Costa, dono da Universidade Brasil, vem acumulando acusações de fraudes e processos na Justiça. Quando era reitor da Uniesp, em 2011, ele divulgou o programa “Uniesp Paga”.

No programa, a faculdade se comprometia a pagar o Fies para estudantes de baixa renda. Em troca, o aluno tinha que fazer trabalhos voluntários em ONGS. Muitas pessoas se inscreveram e acabaram movimentando muito dinheiro. O problema é que a conta do Fies não foi paga e a dívida passou a ser dos estudantes.

Segundo a Polícia Federal, as fraudes do Fies e na Universidade Brasil geraram um prejuízo de R$ 2 bilhões aos cofres públicos.

O que diz a Universidade Brasil

O advogado do reitor e da Universidade Brasil nega a existência do esquema fraudulento. “Até o momento, não há nenhum elemento para que o Fernando ou seu filho soubessem do que estava acontecendo. A universidade continua à disposição para identificar, colaborar, indicar os responsáveis e para sanar os problemas”, afirma Pierpaolo Cruz.

Em nota, o Ministério da Educação (MEC) disse apenas que instaurou processo administrativo para apurar o possível envolvimento de servidores nas fraudes da universidade e que a instituição foi suspensa cautelarmente para novos contratos do Fies.

Sobre o Revalida, o MEC defende que somente as instituições de ensino superior com nota máxima no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) possam revalidar diplomas.

“Virou literalmente uma bagunça. É uma situação muito grave porque no final das contas, quando a população vai ser atendida lá na posta, do outro lado da mesa, pelo jaleco branco, ela não sabe se o médico foi bem formado, que universidade que ele foi, se ele foi revalidado, ou se ele é formado de qualidade aqui no Brasil”, afirma o vice-presidente da Associação Médica Brasileira, Diogo Leite Sampaio.

Operação

As investigações começaram no início do ano após a PF receber informações de que estariam ocorrendo irregularidades no campus de um curso de medicina em Fernandópolis.

De acordo com a PF, vagas para ingresso, transferência e financiamentos.

*Informações: IMAS, G1 e Rádio Cultura FM

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