Dia Mundial do Câncer

Data foi lembrada no domingo e alerta para o crescente número de casos da doença em todo o mundo. Em Campos Novos pacientes são encaminhados para Joaçaba, município de referência em tratamento oncológico.

Dr. Ruggero Caron

Estimativas apontam que a cada ano são feitos 12 milhões de diagnósticos de câncer no mundo. Se considerarmos apenas o Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), foram registrados em torno de 600 mil novos casos em 2016 – em 2015, eram 520 mil. Considerando total global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que uma grande parte dos casos está relacionada ao nosso modo de vida. E mais: a entidade destaca a perigosa relação entre hábitos pouco saudáveis da nova geração e o aumento nos índices de tumores entre jovens com menos de 30 anos.

O câncer é segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no país, perdendo apenas para óbitos decorrentes de acidentes e violência. Entre 2009 e 2013, de acordo com os dados mais recentes fornecidos pelo INCA, 17.500 jovens brasileiros morreram em decorrência de tumores malignos.

A jornalista Antonia Claudete Martins entrevistou o Dr. Ruggero Caron, oncologista clínico responsável pelo serviço de oncologia do Hospital Santa Terezinha e atendimento de quimioterapia da Unimed. O HU Santa Terezinha é referência para Campos Novos em TFD (Tratamento fora do domicílio), para encaminhamentos oncológicos e Lages é o município referência para radioterapia.
Conforme dados repassados pelo setor de TFD de Campos Novos, em 2016 foram encaminhados 48 pacientes para oncologia em Joaçaba e 15 para radioterapia em Lages. Em 2017 foram 65 encaminhamentos para oncologia e 25 em radioterapia. Em janeiro de 2018 já são sete encaminhamentos em oncologia e dois para radioterapia.

Confira a entrevista com o especialista:

O Celeiro – Estimativas apontam que a cada ano são feitos 12 milhões de diagnósticos de câncer no mundo. Falando em região, tendo o HU Santa Terezinha como referência para vários municípios, entre eles Campos Novos, há um grande número de casos também?

O serviço de oncologia do HUST atende pacientes de cerca de 55 municípios da nossa região, sendo que Concórdia, Caçador, Campos Novos, Videira e Curitibanos estão entre os maiores que nos encaminham pacientes. Não temos visto nenhuma desproporcionalidade significativa entre casos e número de habitantes no comparativo dos municípios. Campos Novos fica na média proporcional. Como Campos Novos é um dos maiores municípios, temos sim, um número significativo de pacientes nas diversas especialidades que o serviço oferece.

O Celeiro – Quais são os tumores mais comuns?

As nossas estatísticas não diferem muito em relação aos dados fornecidos nas Estimativas do INCA, ou seja, temos o câncer de pele não melanoma como o mais prevalente em ambos os sexos. Após vem por ordem, entre os homens, próstata, pulmão, intestino (colon e reto), estômago e boca/garganta. Já entre as mulheres temos mama, intestino (colon e reto), colo do útero, pulmão e tireóide.

O Celeiro – Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), grande parte dos casos estão relacionados ao nosso modo de vida. O senhor concorda?

Cada vez mais vemos estudos mostrando que o câncer é uma doença multifatorial, que associados aumentam a possibilidade de desenvolver a doença. Os fatores ambientais e os hábitos ou costumes de uma população, certamente influenciam na formação do câncer. O exemplo mais difundido é o tabagismo, mas outros, como hábitos alimentares inadequados, alcoolismo, falta de atividade física, obesidade, fatores ocupacionais, são também apontados como agentes que contribuem para o surgimento da doença.

O Celeiro – A entidade destaca ainda perigosa relação entre hábitos pouco saudáveis da nova geração e o aumento nos índices de tumores entre jovens com menos de 30 anos. Os diagnósticos nesta faixa etária na região são em menor ou maior número?

Nesta faixa etária, o que temos visto nos últimos anos, que chamou a atenção da equipe médica, foi o aumento dos casos de câncer de mama em mulheres jovens. Mais uma vez, os hábitos alimentares e de estilo de vida, quando comparados com os de gerações anteriores, podem estar implicados nesta nova condição. Estudos epidemiológicos são necessários para melhor interpretação destas impressões, porém o apoio à pesquisa em nosso País é muito escasso, o que dificulta a obtenção de melhores dados.

O Celeiro – O que pode ser feito em prevenção para frear as estatísticas crescentes ano a ano?

Dois caminhos são importantes para diminuir a mortalidade desta doença. O primeiro é o da prevenção primária, ou seja, evitar à exposição aos fatores de risco conhecidos e adotar um modo de vida saudável. O segundo é a prevenção secundária e o diagnóstico precoce. Aqui os objetivos são de diagnosticar e tratar lesões pré-malignas (e assim evitar a evolução para câncer) e diagnosticar tumores malignos em fase inicial, momento em que a chance de cura é muito maior. Claro que para melhorar o acesso aos exames preventivos e posteriores condutas se faz necessário um maior e melhor investimento em saúde, o que não vem ocorrendo em nosso País.

O Celeiro – Orientações para uma vida saudável Doutor Ruggero.

Em primeiro lugar, força de vontade! Não é fácil mudar hábitos de vida. O começo é difícil, mas na sequência as recompensas virão. Não fumar, manter uma alimentação saudável e equilibrada, manter peso adequado, praticar atividade física orientada, diminuir ou eliminar a ingestão de bebida alcoólica, evitar exposição solar entre 10h e 16h (adaptar no horário de verão), fazer os exames preventivos disponíveis na rede de saúde, vacinar meninos e meninas contra o HPV nas faixas etárias indicadas, são medidas de vida saudável que terão impacto na diminuição das chances de desenvolver câncer.

*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1515 de 08 de fevereiro de 2018.

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